domingo, 7 de outubro de 2012

AS CRUZADAS

Há 900 anos, aurora radiosa das Cruzadas
            Naquele mês de novembro de 1095, uma multidão afluía, de diversas partes da    Europa, para a cidade de Clermont-Ferrand, na França: centenas de arcebispos e bispos, cerca de quatro mil eclesiásticos e dezenas de milhares de leigos. O Bem-aventurado Papa Urbano II vinha de convocar um Concílio em que se iria decidir, entre outros assuntos, o destino da Terra Santa, de há muito em poder dos infiéis.     
                
Com efeito, os seguidores de Maomé, desde o fim do século IX, tornaram-se senhores do Egito, Síria e Palestina, e os peregrinos, que do mundo inteiro se dirigiam a Jerusalém, assistiam desolados ao triste espetáculo. Os Lugares Santos profanados e o estandarte do Crescente -- substituindo-se à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo -- flutuando sobre a cúpula da igreja da Ressurreição, transformada em mesquita.
Aproximadamente dois séculos se passaram, no transcorrer dos quais o Ocidente cristão suportou pacientemente tão doloroso estado de coisas. Foi então que hordas de bárbaros tártaros, extremamente belicosos e agressivos, iriam modificar inteiramente tal situação. Entre esses asiáticos destacaram-se os turcos, que tinham dominado a Pérsia e abraçado a religião de Maomé, chegando ao pináculo de seu poderio sob a dinastia dos seljúcidas. Incomparáveis na arte de cavalgar e no manejo das armas, passaram a espalhar o terror por toda a região.
Tão logo ocuparam os Lugares Santos, moveram atroz perseguição aos cristãos do Oriente e aos peregrinos, estes últimos sistematicamente interceptados, saqueados e chacinados nos caminhos para Jerusalém. Ao mesmo tempo buscavam conquistar o Império Bizantino, como meio para atirarem-se sobre a Europa ocidental.
Continuamente chegavam ao Trono de São Pedro, então ocupado por São Gregório VII, insistentes pedidos de intervenção militar no Oriente.
Condoído pela tragédia que se abatera sobre a Cristandade, o grande pontífice planejou ir, ele próprio, à frente de um exército cristão defender a liberdade dos peregrinos de venerar os Santos Lugares e tolher o passo à ofensiva islâmica sobre o Ocidente. Entretanto, dificuldades políticas com o Sacro Império Romano Alemão o impediram de realizar tão acalentado intento.
Coube ao Bem-aventurado Urbano II, sucessor de São Gregório VII e igualmente vinculado à reforma empreendida pela abadia de Cluny, a glória da convocação da Cruzada.

Nascimento de um grande ideal

O Concílio de Clermont-Ferrand, aberto em 17 de novembro de 1095, ocupou-se antes de tudo em aprimorar a disciplina eclesiástica e combater os maus costumes, bem como as guerras entre particulares, então muito freqüentes.
Para esse efeito o Concílio renovou a chamada trégua de Deus, que punha vigorosos limites às lutas privadas como também às guerras entre famílias. Com isso Urbano II preparava aqueles corações ainda rudes para neles fazer raiar a mais bela página da história da Cristandade: o ideal de cruzada. Isso teve lugar durante a décima sessão do Concílio na grande praça de Clermont, onde incontável multidão se reunia para ouvir a voz inspirada do Vigário de Cristo. Urbano II subiu a uma alta tribuna, e com voz potente conclamou os cristãos, especialmente os franceses, a abraçarem a causa da libertação dos lugares santos.
"Ai de vós, meus filhos e meus irmãos -- disse o Papa -- que vivemos nestes dias de calamidades! Viemos então a este século reprovado pelo Céu, para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está entregue nas mãos de seus inimigos?"
As palavras de fogo do intrépido Pontífice, a multidão, cheia de zelo e entusiasmo pela glória de Deus, bradava em uníssono: Deus vult, ou seja, Deus o quer.
"Que as palavras `Deus o quer' sejam o vosso brado de guerra" -- respondeu Urbano II. Em seguida, de joelhos em terra, a multidão recebia -- para aquela situação extraordinária -- a absolvição geral, e algumas notáveis personalidades ali presentes fizeram prontamente o juramento de lutar na Terra Santa. Como símbolo de tal juramento, uma cruz vermelha de tecido era afixada sobre as próprias roupas. Daí terem tomado o nome de cruzados.
O primeiro a receber a cruz, o fez das mãos de Urbano II, com pedaços de suas próprias vestes episcopais: foi o Bispo de Puy, Ademar de Monteuil, que dirigiu a primeira Cruzada, em nome do Papa, estando este impossibilitado de fazê-lo pessoalmente, como era anseio geral de toda a Cristandade.
Nove Cruzadas se sucederam entre os séculos XI e XIII, das quais a primeira é a mais importante. Nela sobressai a figura de Godofredo de Bouillon, que logrou estabelecer no Oriente, ainda que efemeramente, o Reino Latino de Jerusalém, o principado de Antioquia e os condados de Edessa e de Trípoli.
Aclamado rei de Jerusalém, Godofredo de Bouillon recusou a coroa que lhe era oferecida, ponderando que não podia cingir com ouro sua fronte na mesma cidade onde Nosso Senhor Jesus Cristo havia sido coroado de espinhos.
À frente da sétima e oitava Cruzadas brilhou a personalidade impar de santidade, prudência, coragem e simplicidade de São Luís IX, rei de França, que marcou a História como modelo de rei, de cruzado e de Santo.

Cruzada: expressão de sublime heroísmo religioso

O gesto heróico do Papa Urbano II, convocando a Cruzada, a 27 de novembro de 1095, foi um dos mais importantes, senão o mais importante de seu pontificado. Por certo terá sido um fator determinante na elevação desse grande Pontífice à honra dos altares, quando no ano de 1881 o Papa Leão XIII o proclamou Bem-aventurado.
A primeira Cruzada teve as assinaladíssimas conseqüências que a historiografia insuspeita não tem deixado de exaltar. Mas ao mesmo tempo ela abriu a gloriosa era das Cruzadas, nas quais a Santa Igreja e a Cristandade lutaram em atitude corajosa e nobremente defensiva contra os inimigos da Fé, em três áreas distintas: contra os mouros sarracenos e outros seguidores de Maomé; contra hordas de bárbaros pagãos que ultrapassavam o Reno e o Danúbio; e contra os hereges albigenses, que ameaçavam internamente a Cristandade.
Nessas santas lutas em defesa da Fé, os cruzados, filhos característicos da Igreja militante, salvaram-na de perigos sem conta, e defenderam as terras da Europa ocidental contra muçulmanos, pagãos e hereges. Com o que ficaram defendidas as liberdades indispensáveis para que as nações pacíficas da Europa cristã e ocidental pudessem constituir as maravilhas de fé, arte e cultura que, até hoje, todos os povos da Terra afluem incessantemente para admirar.
A palavra cruzada ficou assim incorporada para todo o sempre ao vocabulário católico, como expressão de sublime heroísmo religioso.
É bem verdade, infelizmente, que as misérias humanas -- presentes até mesmo em excelentes e até santas instituições -- se fizeram notar, e por vezes de modo muito agudo, na história das Cruzadas. Paixões, ambições pessoais, rivalidades mesquinhas, invejas e até traições deixaram indelével cicatriz numa tão louvável instituição nascida sob o influxo da Santa Igreja. Foram tais misérias, com certeza, uma das mais atuantes e decisivas causas dos numerosos reveses e infortúnios sofridos pelas Cruzadas.
Mas se tal é verdade, também o é que, transcorrendo os séculos, aquilo que as Cruzadas tiveram de contingente e humano se eclipsou aos olhos da História para dar lugar à sua verdadeira visualização, isto é, o que elas tiveram de perene e de sobrenatural.
Com efeito, o ideal de cruzado completou o perfil do cavaleiro e marcou a História com um padrão de perfeição cristã que resistiu e vem resistindo a todas as investidas adversárias, a todos os vendavais morais e culturais dos séculos de demolição que se sucederam desde então. Ainda hoje, apesar do estado de vulgaridade e decadência moral em que vão caindo as sociedades modernas, qualificar alguém de um perfeito cruzado é fazer-lhe um dos mais altos e honrosos elogios.
Foi ainda o espírito de Cruzada que, três séculos após São Luís IX, moveu outro Papa, São Pio V, a convocar nova expedição militar, cujo milagroso desfecho se deu em 1571, na célebre baía grega de Lepanto. A armada cristã, sob o comando de Dom João D'Áustria, assistida por celeste proteção, derrotou a frota numericamente muito superior dos turcos otomanos, salvando a Cristandade do domínio muçulmano.
Semente do mesmo ideal das Cruzadas veio germinar em fins do século XVII, por iniciativa de um Papa -- também este elevado às honras dos altares -- o Bem-aventurado Inocêncio XI. Este Sumo Pontífice conclamou o heróico rei da Polônia, João Sobieski, a unir-se às tropas imperiais comandadas pelo Duque Carlos de Lorena, para a defesa de Viena ameaçada pelo Sultão de Constantinopla Maomé IV. Desta forma salvou Viena e o Império, e uma vez mais o Ocidente cristão, da investida islâmica.
Foi justamente em ação de graças por tão memorável vitória que o Bem-aventurado Inocêncio XI instituiu a belíssima festa do Santo Nome de Maria.
Em duzentos anos, nove cruzadas
1095 - O Papa Urbano II convoca os barões da Cristandade para partir em direção a Jerusalém, a fim de libertar o Santo Sepulcro e livrar os cristãos do Oriente, que haviam tombado sob o jugo muçulmano.
1096-1099 - Primeira Cruzada: três anos são utilizados para cercar e tomar Nicéia, Antioquia e, por fim, Jerusalém.
1147-1149 - Segunda Cruzada, a pedido do Papa Eugênio III (motivado pela queda de Edessa) e pregada na França por São Bernardo. Diante de Damasco, a derrota de Luís VII, rei da França, e Conrado III, imperador alemão.
1189-1192 - Terceira Cruzada, empreendida por causa da queda de Jerusalém em poder de Saladino. O rei da França Felipe Augusto, o imperador alemão Frederico Barbaroxa e o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tornam-se cruzados. Tomada da ilha de Chipre e de Acre, no litoral da Palestina. Acordo com Saladino, que concede livre acesso aos Lugares Santos. Criação do reino cristão da Pequena Armênia.
1202-1204 - Quarta Cruzada, convocada pelo Papa Inocêncio III. Objetivo inicial: o Egito. Os cruzados terminaram tomando Constantinopla, onde Balduíno de Flandres instala o império latino, de curta duração.
1217-1221 - Cruzada das crianças: milhares de crianças e jovens morrem a caminho de Jerusalém. Quinta Cruzada, sob novo apelo de Inocêncio III: os cruzados tomam e depois perdem Damieta, no Egito.
1229 - Sexta Cruzada: o imperador alemão Frederico II negocia com o sultão do Egito o livre acesso a Jerusalém, Belém e Nazaré.
1248-1254 - Sétima Cruzada - Jerusalém cai em 1244, pela segunda vez, em mãos dos muçulmanos. São Luís IX empreende a conquista do Egito e conquista Damieta, que depois devolve, ao ser derrotado e tornado cativo.
1270 - Oitava Cruzada - São Luís IX morre diante de Túnis, norte da África.
1291 - Nona e última Cruzada - Tenta infrutiferamente levantar o cerco de Acre. Com o abandono das duas últimas fortalezas da Ordem dos Templários na Palestina e ao norte de Beirute, os Estados latinos da Terra Santa são extintos.

Nossa Senhora Aparecida - Histórico

Uma rosa de ouro para a Virgem


                  Em 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos do aparecimento da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro. A entrega desta importante honraria aconteceu na manhã do dia 15 de agosto daquele mesmo ano, com a presença de diversas autoridades civis e religiosas, entre elas o presidente Artur da Costa e Silva.

            Atualmente, a Rosa de Ouro encontra-se exposta na Exposição Rainha do Céu, Mãe dos Homens: Aparecida do Brasil no Museu Nossa Senhora Aparecida, no 1º andar da Torre Brasília.


O que é uma Rosa de Ouro?


             Os sumos pontífices costumavam oferecer como presente uma Rosa de Ouro, em sinal de particular estima e para distinguir eminentes personalidades que prestavam relevantes serviços à Igreja, ou para honrar cidades, ou ainda para realçar Santuários insignes, como centro de grande devoção. Essa Rosa era artisticamente elaborada segundo o estilo da época.


Descrição histórica da Imagem de Nossa Senhora Aparecida


          A Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, foi encontrada no rio Paraíba na segunda quinzena de outubro de 1717, é de terracota, isto é, argila que, depois de modelada, é cozida em forno apropriado, medindo 40 centímetros de altura.

             Hipoteticamente, ela teria, originalmente, uma policromia, como era costume na época, mas não há documentos que comprovem. Quando foi pescada, o corpo estava separado da cabeça e, muito provavelmente, sem a policromia original, devido aos anos em que esteve mergulhada nas águas e no lodo do rio.

           A cor acanelada com que, hoje, é conhecida ,deve-se ao fato de ter sido exposta, durante anos, ao picumã das chamas das velas e dos candeeiros. Seu estilo é seiscentista, como atestam alguns especialistas que a estudaram.

          Entre os que confirmam ser a Imagem do Século XVII estão o Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, os monges beneditinos do mosteiro de São Salvador, na Bahia, Dom Clemente da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer.

          Finalmente, em 1978, após o atentado que a reduzira em quase duzentos fragmentos, foi encaminhada ao Prof. Pietro Maria Bardi – na época diretor do Museu de Arte de São Paulo – que a examinou, juntamente com o Dr. João Marinho, colecionador de imagens brasileiras.


A imagem que se partiu
Destacamos trecho de um artigo (Folha de S. Paulo, 29-5-78) no qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, se refere a um sacrílego atentado realizado contra a imagem da Padroeira do Brasil em seu Santuário Nacional. No dia 16 de maio de 1978, o herege (PROTESTANTE) Rogério Marcos de Oliveira quebrou o vidro do nicho onde se encontrava a verdadeira Imagem de Nossa Senhora Aparecida, na Basílica velha e tentou levá-la consigo. Na fuga, caiu. Dessa forma, a Imagem partiu-se em pedaços. No exato momento em que a Imagem da Padroeira foi quebrada (20h10), a luz elétrica se apagou em todo o Vale do Paraíba!
Na tarde daquele dia, uma tempestade de pó varrera a cidade. A ventania fora tão forte que o próprio comercio fechou as portas.




       Foi totalmente reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, na época, restauradora do Museu de Arte de São Paulo. Ainda conforme estudos dos peritos mencionados, a Imagem foi moldada com argila paulista, da região de Santana do Parnaíba, situada na Grande São Paulo.

           O mais difícil foi determinar o autor da pequena imagem, pois não está assinada ou datada. Assim, após um estudo comparativo, os peritos chegaram à conclusão de que se tratava de um escultor, discípulo do monge beneditino Frei Agostinho da Piedade, e também seu colega de Ordem, Frei Agostinho de Jesus.

        Caracterizam seu estilo: forma sorridente dos lábios, queixo encastoado, tendo, no centro, uma covinha; penteado, flores em relevo, nos cabelos, broche de três pérolas na testa e porte empinado para trás.

      Todos estes detalhes se encontram na Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, e, por isso, concluíram os peritos, Dom Clemenente da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer, que a Imagem foi esculpida pelo monge beneditino Frei Agostinho de Jesus.


Coroa e Manto


         A partir de 8 de setembro de 1904, quando foi coroada, a imagem passou a usar, oficialmente, a coroa ofertada pela Princesa Isabel, em 1884, bem como o manto azul-marinho.


Nossa Senhora da Imaculada Conceição Aparecida


           A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem seu início pelos meados de 1717, quando chegou a notícia de que o Conde de Assumar, D.Pedro de Almeida e Portugal , Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto - MG.

        Convocado pela Câmara de Guaratinguetá, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram a procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram. Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu.

          João Alves lançou a rede nas águas e apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem a cabeça. Lançou novamente a rede e apanhou a cabeça da mesma imagem. Daí em diante os peixes chegaram em abundância para os três humildes pescadores.

           Durante 15 anos seguidos, a imagem ficou com a família de Felipe Pedroso, que a levou para casa, onde as pessoas da vizinhança se reuniam para rezar. A devoção foi crescendo no meio do povo e muitas graças foram alcançadas por aqueles que rezavam diante a imagem.

        A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se espalhando pelas regiões do Brasil. A família construiu um oratório, que logo tornou-se pequeno. Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745. Mas o número de fiéis aumentava, e, em 1834 foi iniciada a construção de uma igreja maior (atual Basílica Velha).

         No ano de 1894, chegou a Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora "Aparecida" das águas.

         A 8 de setembro de 1904, a Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi coroada, solenemente, por D. José Camargo Barros. No dia 29 de Abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor.

         Vinte anos depois, a 17 de dezembro de 1928, a vila que se formara ao redor da igreja no alto do Morro dos Coqueiros tornou-se Município. E, em 1929, nossa Senhora foi proclamada RAINHA DO BRASIL E SUA PADROEIRA OFICIAL, por determinação do Papa Pio XI.

       Com o passar do tempo, a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi crescendo e o número de romeiros foi aumentando cada vez mais. A primeira Basílica tornou-se pequena.

       Era necessário a construção de outro templo, bem maior, que pudesse acomodar tantos romeiros. Por iniciativa dos missionários Redentoristas e dos Senhores Bispos, teve início em 11 de Novembro de 1955 a construção de uma outra igreja, atual Basílica Nova.

           Em 1980, ainda em construção, foi consagrada pelo Papa João Paulo ll e recebeu o título de Basílica Menor. Em 1984, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida:Santuário Nacional; "maior Santuário Mariano do mundo".

        O Padre Francisco da Silveira, que escreveu a crônica de uma Missão realizada em Aparecida em 1748, qualificou a imagem da Virgem Aparecida como “famosa pelos muitos milagres realizados”. E acrescentava que numerosos eram os peregrinos que vinham de longas distâncias para agradecer os favores recebidos. Mencionamos aqui três grandes prodígios ocorridos por intercessão de Nossa Senhora Aparecida.

            O primeiro prodígio, sem dúvida alguma, foi a pesca abundante que se seguiu ao encontro da imagem. Não há outras referências sobre o fato a não ser aquela da narrativa do achado da imagem: “E, continuando a pescaria, não tendo até então pego peixe algum, dali por diante foi tão abundante a pesca, que receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, os pescadores se retiraram as suas casas, admirados com o que ocorrera.”

          Entretanto, o mais simbólico e rico de significativo, sem dúvida, foi o milagre das velas pela sua íntima relação com a fé. Aconteceu no primitivo oratório do Itaguaçu, quando o povo se encontrava em oração diante da imagem.

           Numa noite, durante a reza do terço, as velas apagaram-se repentinamente e sem motivo, pois não ventava na ocasião. Houve espanto entre os devotos e, quando Silvana da Rocha procurou acendê-las novamente, elas se acenderam por si, prodigiosamente.

        Significativo também é o prodígio das correntes que se soltaram das mãos de um escravo, quando este implorava a proteção da Senhora Aparecida. Existem muitas versões orais sobre o fato. Algumas são ricas em pormenores. O primeiro a mencioná-lo por escrito foi o Padre Claro Francisco de Vasconcelos, em 1828.

A pesca milagrosa


     A Câmara Administrativa de Guaratinguetá decidiu e pronto. A época não era favorável à pescaria mas os pescadores que se virassem. O Conde tinha que provar do peixe do rio Paraíba.

         E a convocação foi lida em toda a redondeza. João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso, moradores de Itaguaçu, pegaram seus barcos, suas redes e se lançaram na difícil tarefa. Remaram a noite toda sem nada pescar.

           No Porto de Itaguaçu, lançaram mais uma vez as redes. João Alves sentiu que a sua rede pesava. Serão peixes? Puxou-a. Não. Não eram peixes. Era o corpo de uma imagem. Mas ... e a cabeça, onde estava? Guardou o achado no fundo do barco. Continuaram tentando achar peixes.

             De repente, na rede do mesmo pescador, uma cabeça enegrecida de imagem. João Alves pegou o corpo do fundo do barco e aproximou-o da cabeça. Justinhos. Aquilo só podia ser milagre. Benzeram-se e enrolaram os pedaços num pano. Continuaram a pescaria. Agora os peixes sabiam direitinho o endereço de suas redes. E foram tantos que temeram pela fragilidade dos barcos...

O milagre das velas

     Depois que chegaram da pescaria onde encontraram a Senhora, Felipe Pedroso levou a imagem para sua casa conservando-a durante 5 anos.

     Quando de sua mudança para o bairro da Ponte Alta deu a imagem a seu filho Athanásio Pedroso que morava no Porto de Itaguaçu bem perto de onde seu pai Felipe Pedroso, João Alves e Domingos Garcia haviam encontrado a imagem.

     Athanásio fez um altar de madeira e colocou a Imagem Milagrosa da Senhora Aparecida. Aos sábados seus vizinhos se reuniam para rezar um terço em sua devoção. Em certa ocasião, ao rezar o terço, 2 velas se apagaram no altar de Nossa Senhora, o que era muito estranho, pois aquela noite estava muito calma e não havia motivo para o acontecimento.

          Silvana da Rocha, que no dia acompanhava o terço, quiz acender as velas, porém, as mesmas se acenderam sem que ninguém as tocasse, como um perfeito milagre. Desta data em diante a Imagem Milagrosa de Nossa Senhora Aparecida deixou de pertencer à família de Felipe Pedroso para ficar pertencendo a todos nós, devotos da Santa Milagrosa.


Romeiros de Nossa Senhora Aparecida

         Dos milhões de romeiros que visitam o Santuário Nacional de Aparecida, muitos são portadores de angústia, outros tantos, da esperança. Esperança de cura, de emprego, de melhores dias, de paz.

       Eles chegam de ônibus, de carro, de trem (em tempo passado), de moto, de bicicleta, a cavalo e a pé. São pobres e ricos; são cultos e ignorantes; são homens públicos e cidadãos comuns. Aqui estiveram o Papa, príncipes, princesas, presidentes, poetas, padres, bispos, prioras, patrões e empregados. Vieram os pescadores.

        Muitos cumprem um ritual que começou com seus avós e persiste até hoje. Outros vêm pela primeira vez. Ficam perplexos diante do tamanho do Santuário e de sua beleza. A Imagem os extasia.

         A fé traz o romeiro a Aparecida leva-o a comportamentos de pincéis famosos, câmaras e versos imortais. Olhos que buscam, vasculham ou se fecham para ler as mensagens secretas que trazem na alma. Lábios que balbuciam ave-marias, atropeladas pela pressa das muitas intenções.

        Mãos que seguram as contas do rosário, a vela, o retrato, as flores, o chapéu. Joelho que se dobram e se arrastam, em atitude de total despojamento. Pés cansados pela procura de suas certezas. Coração nas mãos em forma de oferenda. Na alma, profundo senso do sagrado.

       O chão que pisam, a porta que transpõem, as pessoas que aqui residem, tudo tem para eles significado transcendente. Este é o romeiro de Nossa Senhora Aparecida. Alma pura, simples, do devoto que acredita, que se entrega à proteção dos céus, sem dúvidas ou restrições.


Consagração 50 Anos

           Ela teve início dia 31 de maio de 1955, uma terça-feira.

          Começou assim:

        O Padre Laurindo Häuber, redentorista que trabalhava na Rádio Aparecida, teve uma idéia: Comprou um livro, que chamou de Livro de Ouro, e disse na Rádio que quem quisesse consagrar-se a Nossa Senhora Aparecida, era só escrever para a Rádio que ele anunciava o nome, às 15 horas, e lia a oração da Consagração. Ele ia fazer isso na 3ª, na 5ª e no sábado.

            E Padre Laurindo começou então esse programa. Como que ele fazia:
Lia os nomes, dava uma pequena mensagem, lia a oração da Consagração que estava no Manual do Devoto, um livrinho de orações editado pela Editora Santuário em 1904, e em seguida dava a bênção.

        Meses depois, o número de nomes enviados aumentou tanto que ele parou de lê-los, deixando de lado o Livro de Ouro. Dali para frente, todos os ouvintes da Consagração passaram a ser consagrados a Nossa Senhora. E assim a Consagração a Nossa Senhora Aparecida adquiriu a mesma forma de celebração e o mesmo feitio que tem hoje.

         Inclusive a música de abertura, Roga por nós ó Mãe tão Pia, foi escolhida pelo Padre Laurindo. Um ano depois, em 1956, o Padre Laurindo foi transferido para São Paulo, a fim de trabalhar na Rádio Nove de Julho. Os padres Vítor Coelho de Almeida e Rubem Leme Galvão continuaram fazendo a Consagração. Agora, a semana toda: O Padre Vítor Coelho fazia na 3ª, na 5ª e no sábado, e o Padre Galvão fazia na 2ª, na 4ª e na 6ª feira.

       No ano seguinte, o Padre Vítor Coelho assumiu sozinho a Consagração e passou a fazê-la não mais no estúdio da Rádio, mas no Altar Mor da Basílica. Ela deixou então de ser um simples programa de rádio e se tornou uma celebração paralitúrgica no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, como a Hora Mariana, a Novena Perpétua etc.

        Padre Vítor a fez durante 31 anos, até a véspera de sua morte, que aconteceu dia 21 de julho de 1987. Em 1988, o Padre César Moreira, então Diretor da Rádio Aparecida, determinou que a Consagração fosse feita também aos Domingos. Após o falecimento do Padre Vítor Coelho, o Padre Alberto Pasquoto assumiu a Consagração, e a fez até o início de 1989.

        Em 1989, o Padre Agostinho Frasson a assumiu e fez até 1991. Nos anos 1992 e 1993, quem dirigiu a Consagração foi o Padre Afonso Paschote. Em 1994, o Padre Frasson a assumiu novamente e a fez até 1996. O Padre Antônio Queiroz a assumiu dia 11/01/97, um sábado, sendo que nos seus dias de folga quem fazia era o Padre Silvério Negri. Após o falecimento do Padre Negri, ocorrido dia 28/08/03, nos dias de folga do Padre Queiroz a Consagração entra na escala normal dos trabalhos pastorais da Basílica.

       Esta é, resumidamente, a história da Consagração, que dia 31 deste mês completará 50 anos de existência. Em todos esses anos, repito, o modo de fazer a Consagração não mudou, continuando aquele iniciado pelo Padre Laurindo. Desde o início, várias emissoras de rádio começaram a entrar em cadeia com a Rádio Aparecida, às 15 horas, para transmitir a Consagração.

       Assim, a Consagração a Nossa Senhora Aparecida abriu caminho para que se formassem redes de Rádio para transmissão de programas religiosos. A UNDA BRASIL (Unda é uma palavra latina que significa onda. É um organismo internacional da Igreja, ligado à comunicação pelo Rádio) promoveu a união dessas redes e criou a Rede Católica de Rádio, que hoje é como uma grande constelação, iluminando todo o céu do Brasil.

       Agora, celebrando o cinqüentenário da Consagração, nós queremos agradecer a Deus. Não queremos ser como aqueles nove leprosos curados, que não agradeceram a Deus a sua cura. É interessante que Jesus disse para aquele que voltou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai! Tua fé te salvou” (Lc 17,17-19).

       Jesus fala de dar glória a Deus Pai. De fato, Deus Pai é a origem de tudo. Tudo nos vem dele, pelo Filho, no Espírito Santo. Na Consagração a Maria, ela é a intercessora. Por isso agradecemos a ela também. Então, neste Jubileu nós agradecemos a Deus todas as graças que ele concedeu ao povo brasileiro, e a nós, nesses 50 anos.

      Concedeu e esperamos que continue concedendo, porque, como diz aquela oração que vem da Igreja Primitiva, jamais se ouviu dizer que algum daqueles que tem recorrido à proteção de Maria e implorado o seu auxílio, fosse por ela desamparado. Nós cristãos fomos consagrados definitivamente a Deus no dia do nosso batismo.

        A Consagração a Nossa Senhora, que fazemos todos os dias, é uma entrega de nós mesmos a ela, como um filho ou filha que se joga nos braços da Mãe, para que ela cuide de nós, fazendo-nos felizes e bons discípulos de Jesus.

Pe. Antonio Queiroz dos Santos, C.Ss.R.
Fonte: http://www.santuarionacional.com

Números: Mártires do Século XX



"Nosso nosso século retornaram os mártires, muitas vezes desconhecidos, quase 'militi ignoti' da grande causa de Deus" (Tertio millenio advenient n. 37).

Quero escrever sobre números, uma vez que é isto que importa hoje em dia. O primeiro número que quero escrever é 860.000: "O escritor e diplomata israelense Pinchas Lapide estimou que 860 mil judeus foram salvos [do regime nazista] com a intervenção católica" (1).

Quero agora escrever 800. É o número de sacerdotes católicos mortos entre 1955 e 1995 em diversas partes do mundo (2).

Agora quero escrever 5.300. É o número dos que foram martirizados no México quando desencadeou-se o regime anticatólico de 1917 (3).

Na Espanha, entre 1931 e 1939 [durante a guerra civil espanhola] existem outros números: 2.000 igrejas destruídas, 6.000 sacerdotes assassinados, bens móveis e imóveis confiscados (4).

Agora quero escrever 9.000. É a soma dos 6.000 missionários estrangeiros presos, expulsos ou assassinados com os 3.000 sacerdotes, leigos ou religiosos chineses condenados ou deportados a partir de 1949 na instauração do comunismo chinês (5).

Na  União Soviética (URSS) "a vida religiosa católica foi, em poucos anos, quase completamente aniquilada [...]. Com a guerra de 1939 a 1945 [...] 70 milhões de católicos [dos países anexados e da própria Rússia] sofreram uma duríssima perseguição. Em 1929 foi expulso o último bispo católico. [...] Em 1937 foram fechadas [pelo sistema de governo soviético] 1.100 igrejas ortodoxas, 240 igrejas católicas, 61 protestantes, 110 mesquitas [...]. As igrejas ortodoxas que em 1913 eram 80.729 foram reduzidas a 3.900 [...]. Essas medidas encontraram a oposição do povo, que respondeu com grandes procissões para defender as igrejas e os mosteiros. [...] Em 1922 fala-se de 8.100 vítimas (2.691 sacerdotes, 1.962 monges, 3.447 monjas, 150 bispos deportados para a Sibéria)" (6).

Outro número que é interessante: Na Albânia "depois de seis anos de governo comunista, a Igreja Católica estava quase completamente aniquilada [...]. Dos seis bispos, restava um. Dos 94 sacerdotes seculares, dezessete foram mortos, 39 presos, 3 obrigados a buscar asilo no exterior, onze convocados às armas, dez mortos de morte natural ou seguida de maus-tratos [...] Além disso, foram fechados ou requisitados todos os seminários, noviciados, conventos, escolas, asilos e todas as obras da Igreja Católica" (7).

Resolvi escrever estes números inexatos e que não contam os assassinatos de católicos, ortodoxos e protestantes das duas últimas décadas. Tenho um único intuito: mostrar que a Igreja permanece viva. Ela a ninguém incomodaria se não estivesse viva! Ademais, os apelos dos Santos Padres a que nos entreguemos de corpo e alma à obra da evangelização é para que o mundo, conquistado pelo Evangelho, se convença de seus erros e assim trilhe caminhos diferentes do passado. Não penso que o mundo venha a pedir perdão à Igreja por tê-la feito sofrer tal agrura. Nenhum filho ingrato o faz para com sua mãe. Com os governos e sistemas hostis que nos governam não é diferente. Os números da perseguição podem aumentar no mesmo passo que os do IBGE diminuem para a percentagem de católicos no Brasil, porque para ser perseguido em nossos dias basta professar a fé viva e incondicional em Jesus Cristo e em suas leis e mandamentos. Concluo afirmando que a Igreja não faz o papel de vítima de um psicodrama. Ela é protagonista de sua história guiada pelo Espírito de Deus. A Igreja não tem necessidade de se auto-afirmar incensando os erros do passado e cultivando-os numa memória mórbida da própria sorte. Ela afirma-se propondo um mundo novo aos olhos contemporâneos sem esquecer-se de quem é e sem apegar-se aos muitos flagelos que sofreu na história. Porém, penso ser um dever de justiça dar a cada um o que lhe é devido. Incautos há que cobram a Igreja sob a pecha de "obscurantista; má; perseguidora e assassina" em um período da história sem, contudo, conhecê-la ou ao menos citar dados e fontes. O texto supra tem um tom apologético. Ele intenciona dar a César o que é de César: Nas mãos de sistemas iníquos repousa o sangue de Abel que clama aos céus por justiça!
(1) cf. ZAGHENI, G. A Idade Contemporânea. Curso de História da Igreja IV. São Paulo, Paulus: 1999. Pg. 323.

(2) (3) (4) (5) cf. Idem. pg. 394.

(6) cf. Idem. pg. 395-396

(7) cf. Idem. pg 398-399